Cidade tem motivos suficientes para acreditar que pode ser um expoente de uma nova economia que deriva da relação entre inovação, cultura, tecnologia, sustentabilidade e criatividade
“Sem esperança não surge o inesperado”. Foi com essa frase do poeta expoente do surrealismo e um dos mais influentes sociólogos brasileiros, o juiz-forano Murilo Mendes, que a prefeita Margarida Salomão abriu solenemente o 1º Fórum Próximo Futuro, realizado em julho. O evento é um marco na construção de um novo e ousado paradigma para o desenvolvimento econômico que pretende fazer da cidade polo internacional de Economia Criativa.
“Uma das qualidades definidoras do ser humano é a capacidade para o ineditismo que se radica na nossa habilidade de conviver. Isso é eminentemente humano. É a possibilidade de nos reinventarmos pela convivência, pela experiência da sociedade. Isso de fato é o que nos dá esperanças de protagonizar capítulos não vividos e que, certamente, serão melhores do que o que tivemos até aqui. É por isso que apostamos no próximo futuro em sua diversidade de concepções”, explica a prefeita, ciente da força de transformação que advém das conexões entre os mais diferentes agentes sociais.
E Juiz de Fora tem motivos suficientes para acreditar que pode ser um expoente de uma nova economia que deriva da relação entre inovação, cultura, tecnologia, sustentabilidade e criatividade. Basta olhar sem preconceito e sem saudosismo paralisante para o que cidade produziu e está produzindo em bens tangíveis e intangíveis, especialmente os relacionados ao conhecimento intelectual e artístico que só fortalecem a criatividade e a geração de valor para a sociedade. Não é por menos que a indústria criativa no Brasil apresenta índices de crescimento muito superiores aos setores tradicionais.
De acordo com Mapeamento da Indústria Criativa 2022, “em 2020, o PIB Criativo totalizou R$ 217,4 bilhões – valor comparável à produção total do setor de construção civil (que em 2020, também figurou em cerca de 2,9% do PIB total) e superior à produção total do setor extrativista mineral. Entre 2018 e 2020, a tendência de alta, observada ao longo de toda a série histórica, se intensificou significativamente. Sob um ponto de vista agregado, isso implica que a performance econômica da Indústria Criativa tem sido melhor do que aquela observada para a economia como um todo”.
“Nossa cidade sempre se imaginou como uma grande matriz de criação. Ela tem essa perspectiva do pioneirismo que sempre reivindica para si. Precisamos nos apropriar de nossa trajetória para transformá-la em tudo o que ela pode ser. Há 62 anos, essa cidade criou uma universidade federal que, até então, havia apenas nas capitais. Disposição que acabou no mote de aspergir luzes e que traduz bem nossa vocação. Que essas luzes sejam capazes de dar voz inclusive àqueles que foram silenciados, mas que, não obstante, têm contribuído tanto com a nossa cultura. É o caminho da culinária, da cerveja artesanal, da cachaça, dos encontros, do samba. Não estamos aqui para nos chatear, como diz Carlos Drummond de Andrade. Nós merecemos mais”, afirma Margarida.
Modelo de negócios baseado na criatividade e no capital intelectual para gerar valor, como renda, trabalho e lucro, além do próprio aprofundamento do conhecimento, a Economia Criativa está na pauta mundial. Com o ingresso na Agenda 21, se integrando à rede Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU), Juiz de Fora se conecta com diversos organismos nacionais e internacionais que têm como prerrogativa promover a integralidade da relação entre a cidadania, a cultura e o desenvolvimento sustentável.
“A Agenda nos impulsiona a pensar globalmente e agir localmente. Nos impulsiona a ver outros vetores de desenvolvimento. Para Juiz de Fora é importante por ser uma cidade com muitas vocações. É a possibilidade de pensar a cultura como eixo primordial do desenvolvimento e não só como um penduricalho das outras políticas públicas. Os fazedores e fazedoras de cultura estão sendo conclamados a participar deste processo, tendo a cultura não só como uma produção individual, mas como uma produção que tem a ver com o que está na pauta do mundo inteiro”, observa a diretora geral da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), Giane Elisa Sales de Almeida.
Essa mudança de perspectiva pode elevar a cidade a patamares futuros da vanguarda que sempre reivindica, porque tem passado e presente para isso, construídos por artistas, ativistas famosos e anônimos e agentes que, nos últimos 60 anos, desempenham papel relevante para o fortalecimento da cultura, como a Prefeitura (é inegável a contribuição do Programa Cultural Murilo Mendes), a Universidade Federal de Juiz de Fora e a iniciativa privada. “Temos a oportunidade desta produção ser reconhecida e assumida como algo que é vital para a cidade avançar, porque não existe desenvolvimento sem considerar essa diversidade, essa nossa riqueza”, acrescenta Giane.
Diretor do Instituto Fábrica do Futuro, do Polo Audiovisual da Zona da Mata, em Cataguases, e coordenador das iniciativas que fomentarão a agenda para que a cidade se consolide como polo internacional de Economia Criativa, Cesar Piva destaca que a etapa seguinte, após a realização do 1º Fórum Próximo Futuro, é o planejamento estratégico com ações estruturantes que serão implantadas a partir de 2023. “A prefeita Margarida Salomão, por meio do diálogo intersetorial, está propondo um sonho para Juiz de Fora. As pessoas já estão entendendo que se trata de algo muito maior e duradouro para a região. É a proposta de construção de uma política para a nova economia”, finaliza Piva.