PUBLIEDITORIAL

Usuário paga até 120% do custo do transporte público no Brasil

Em entrevista à Rádio Transamérica, o especialista José Ricardo Daibert alertou para a necessidade de se repensar o financiamento do transporte público com a entrada de outras fontes, inclusive de parte do que se arrecada com o automóvel e com o combustível

Por ANSAL

José Ricardo Daibert

“Em Juiz de Fora, temos um lado favorável, uma vez que constatamos a sensibilidade da administração atual. Aqui, o custo já é diferente da tarifa. A Prefeitura tem entrado com uma parte, mas o orçamento público municipal é insuficiente para que essa mudança se dê de forma mais impactante. Há que se criar outros mecanismos de fontes alternativas”, destacou o especialista José Ricardo Daibert.

“O transporte é público somente no seu acesso, mas não no seu financiamento. Quem paga por esse serviço integralmente é o usuário”. A afirmação é do especialista em mobilidade urbana sustentável, José Ricardo Daibert.  Em entrevista à Rádio Transamérica, nesta semana, ele alertou para a necessidade urgente de se repensar o modelo de financiamento adotado no país, que penaliza as classes sociais menos favorecidas, em sua maioria caracterizadas por pessoas de baixa renda, que acabam por “subsidiar” o custo para todos, inclusive os de maior poder aquisitivo, em uma inversão total de valores.

“Existe uma questão interessante na Lei de Mobilidade Urbana 12.587/2012. Ela define que precisa haver uma diferença entre tarifa de remuneração, que é o quanto recebe o concessionário ou a empresa pelo custo do transporte público coletivo, e a tarifa pública, que é paga pelo usuário. Nos diversos países desenvolvidos, essa diferença é astronômica. Nos países da Europa, por exemplo, o usuário paga entre 40% e 50%. Já no Brasil, ele arca com algo em torno de 120%. Isto porque, além do custo integral, paga 20% de gratuidades que, historicamente, os políticos concederam. Não vou entrar no mérito, mas a questão é que quem banca tudo isso é o usuário”, explicou Daibert.  

Por isso, o especialista defende a revisão urgente no modelo adotado no Brasil, com a abertura de outras fontes de financiamento, inclusive de parte do que se arrecada com o automóvel ou com o combustível. Essa mudança pode representar para o usuário um valor entre entre 30% e 50% do custo do transporte, percentual bem diferente ao que é obrigado a bancar atualmente. Com recursos advindos de outras fontes, o transporte coletivo público terá condições de oferecer mais qualidade a seus usuários.

A equação do valor pago pelos usuários depende de uma decisão política e envolve os governos federal, estadual e municipal. Segundo Daibert, a Prefeitura de Juiz de Fora está fazendo a sua parte. “Nós temos um lado favorável, uma vez que constatamos a sensibilidade da administração atual. Aqui, o custo já é diferente da tarifa. A Prefeitura tem entrado com uma parte, mas o orçamento público municipal é insuficiente para que essa mudança se dê de forma mais impactante. Há que se criar outros mecanismos de fontes alternativas”, disse.

Transporte Público é vital para o desenvolvimento do país

Com base no total de veículos em circulação em Juiz de Fora, é possível afirmar que o número de passageiros transportados em carros particulares equivale ao total de usuários que circula nos 520 ônibus urbanos. Isso explica porque a mobilidade urbana sustentável, com menos poluição ambiental, engarrafamentos, perda de tempo e estresse para motoristas e pedestres, dentre outros fatores, passa pela melhoria do transporte coletivo. “Daí ser fácil enxergar que a solução do trânsito está no transporte público coletivo, planejado para ser melhor e mais barato”, constata Daibert.

Durante entrevista à Rádio Transamérica, ele lembrou das manifestações na cidade de São Paulo, em 2013, cujo estopim foi o aumento de R$ 0,20 no preço da passagem do transporte público. “A população sabe que o transporte coletivo é meio que pode parar uma cidade ou dar melhor ou pior qualidade de vida, porque depende dele em seu dia a dia. A solução passa pelas três esferas do poder”, observou o especialista.

“Estamos falando do poder público federal, que definiu na Constituição a gratuidade, por exemplo, para pessoas acima de 65 anos. É um custo cada vez mais elevado, porque a população está envelhecendo. É o governo federal que determina, ainda, vários impostos incidentes sobre os custos. Os governos estadual e municipal também têm importante papel na solução. Existe, porém, uma possibilidade, uma luz no fim do túnel para que essas mudanças aconteçam”.

Na visão do especialista, é imprescindível que tenhamos uma política pública que priorize o transporte público em detrimento ao privado, assim como o coletivo (que inclui serviços de táxis e de aplicativos) em relação ao individual e ao não motorizado em comparação ao motorizado (caminhabilidade e ciclicidade).

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