Foto: Charles Maycon
Os resultados confirmam a decisão acertada da Prefeitura de Juiz de Fora em promover, há dois anos, mudanças estruturais no Programa Cultural Murilo Mendes que, além de evidenciar a importância das políticas públicas para o desenvolvimento econômico, ainda coloca a cidade como pioneira no estado em iniciativas de transferência direta de recursos para as mãos de artistas e produtores culturais. Em 2022, serão R$ 2 milhões investidos nos editais “Esparrama” (R$ 190 mil), “Cultura da/na Quebrada” (R$ 310 mil), “Murilão” (R$ 1,1 milhão) e “Quilombagens” (R$ 400 mil).
Diretora geral da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa), Giane Elisa Sales de Almeida explica que diagnósticos feitos no início da administração indicavam que o programa estava concentrado na linha da Avenida Rio Branco. “A maioria das pessoas contempladas eram as que propuseram projetos e que residiam, ou pelo menos, tinham o endereço declarado, em bairros, como Santa Helena, São Mateus, Jardim Glória. Nosso primeiro desafio foi: como estender essa mancha para além da Rio Branco?”– observa Giane.
Assim, surgiram, em 2021, os editais para a periferia, para o público T (travestis, transexuais, transgêneros e performances drag), para a comemoração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna e para a promoção da cultura afro-brasileira, além de ter sido mantido o edital para a livre concorrência. “Tivemos quase 800 pessoas inscritas nos cinco editais”, comemora Giane, ao destacar o sucesso do “Cultura da/na quebrada” com envolvimento de mais de 300 pessoas agrupadas em coletivos. “Apenas duas delas já tinham participado de editais da Funalfa anteriormente”, enfatiza a diretora.
Neste ano, uma das novidades é o Esparrama, voltado para o fomento a pequenos espetáculos que serão realizados em locais a serem definidos pela Funalfa. O objetivo é que as manifestações artísticas cheguem a lugares onde há pouco ou nenhuma oferta, como ocorre na região Nordeste da cidade, por exemplo. A Prefeitura também optou por criar cotas nos editais “Murilão” e “Quilombagens”, como política afirmativa à promoção da diversidade, redução da desigualdade étnico-racial e de gênero. Dessa forma, 45% se destinam à ampla concorrência e 55% ficam reservados para cotas (sendo 40% para pessoas pretas, pardas e indígenas, 5% para pessoas trans, 5% para pessoas com deficiência e 5% para pessoas idosas).
As mudanças no Programa Murilo Mendes deixam evidente uma forma de conceber a Cultura (expressa também na organização do Corredor Muticultural e na disseminação do trabalho desenvolvido pela Funalfa com o projeto Dedo de Prosa) muito alinhada aos propósitos da Economia Criativa e em consonância com os desafios da Agenda 21 da Cultura. “As políticas públicas são essenciais para uma cidade que se propõe a criar um novo viés de desenvolvimento. Não tem como fazer Economia Criativa só no entorno da Avenida Rio Branco. É preciso que todas as vozes sejam escutadas, os corpos, as corpas estejam representadas. O diálogo é fundamental, porque todo mundo tem conhecimento e sabedoria”, sintetiza Giane.
A História registra o pioneirismo de Juiz de Fora na exibição cinematográfica pública em Minas Gerais. Foi a primeira cidade do estado a exibir um filme. Feito datado em 1897, ou seja, apenas um ano e meio após a primeira exibição dos Irmãos Lumière em Paris (França). Além de marco na história do cinema nacional, o ineditismo também caracteriza o forte envolvimento da cidade com a cultura. Amantes do audiovisual lutam para que o município siga sendo referência no cinema e que o futuro seja tão promissor quanto foi no passado.
Coordenador geral do Primeiro Plano – Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades, Aleques Eiterer explica que, em 2022, a iniciativa chega à sua 21ª edição já tendo exibido mais de 800 curtas metragens. Dividido em duas mostras competitivas de filmes inéditos no circuito brasileiro e sul-americano, o Festival também promove oficinas e debates sobre a produção audiovisual com profissionais renomados do mercado, colocando Juiz de Fora como referência.
Para o Presidente da Associação Cultural CineFanon e idealizador do Festicidi – Festival Internacional de Cinema e Cultura e Diversidade -, Ugo Soares, o cinema é uma ferramenta de acesso para as minorias, uma ferramenta de inclusão. Por isso, se orgulha do documentário feito por alunos da oficina oferecida pelo Cinefanon, cineclube itinerante voltado para a exibição e discussão de filmes e documentários relacionados à cultura afro-brasileira, africana e de diáspora, nas periferias e espaços populares da cidade.
“A comunidade não foi objeto da pesquisa. Não foi um pessoal de fora que foi lá e depois mostrou. São eles falando sobre ele mesmos, como se veem, como falam e como se sentem”, conta Ugo, impressionado com a receptividade à obra produzida na oficina do cineclube.
Ugo Soares entre alunos da oficina de cinema oferecida pelo Cinefanon. “São eles falando sobre ele mesmos, como se veem, como falam e como se sentem”.