Peça Ventre Balogun, produção da Sala de Giz - Foto: Lucas Guimarães
Muito se ouve falar de Juiz de Fora como Manchester Mineira, mas o que menos gente sabe é que a cidade também já foi chamada de Atenas Mineira. Identificação feita pelo dramaturgo, poeta, contista, prosador, crítico e jornalista, Artur Azevedo, motivado pela efervescência cultural e artística, sobretudo, no início do século XX. Ao pioneiro Teatro da Misericórdia, em 1859, construído pelo Barão de Bertioga, seguiram-se outras casas de espetáculo, como o emblemático Cine-Theatro Central, inaugurado em 30 de março de 1929, que colocaram a cidade na rota obrigatória de grandes companhias. Inspirados nas memórias e cientes do papel social e revolucionário da arte, artistas, escritores, diretores e produtores teatrais seguem hoje movendo as engrenagens e produzindo cultura com C maiúsculo.
“As companhias que se apresentaram na Campanha de Popularização do Teatro e da Dança desse ano são grupos que fazem, em sua maioria, produções de forma totalmente independente e autônoma, mas que não deixaram de lotar os teatros. Isso mostra como a produção teatral em Juiz de Fora é efervescente”, observa o Conselheiro de Artes Cênicas no Conselho Municipal de Cultura de Juiz de Fora, mestrando em Artes Cênicas pela UFOP e atual Coordenador do Programa Cultural Gente em Primeiro Lugar (Funalfa/AMAC), Fernando Valério.
“Houve uma quantidade enorme de grupos que foram surgindo, inclusive se apresentando pela primeira vez nesse projeto que conseguiu encher todas as casas”, acrescenta o diretor José Luiz Ribeiro, se referindo ao sucesso da 19ª edição da campanha de popularização realizada em agosto. Há 56 anos à frente do Grupo Divulgação, um dos emblemáticos exemplos da resistência da cena teatral com três núcleos de produção – para universitários, adolescentes e terceira idade -, ele acredita que “as pessoas precisam ser acordadas de que o teatro existe na cidade e, assim, darem mais valor às nossas produções”.
Com a mesma disposição de elevar o teatro local a outros patamares, o ator, dramaturgo e gestor da companhia Sala de Giz, Felipe Moratori, juntamente com seu sócio, Bruno Quiossa, persiste no objetivo de profissionalizar o teatro em Juiz de Fora, ainda que muitas pessoas duvidem deste sonho. “Nós queremos transformar essa ausência de profissionalização em uma ação, em um movimento engajado para oferecer essa oportunidade”, revela Felipe.
Para isso, além da companhia teatral que faz trabalho autoral, a Sala de Giz mantém a Escola de Teatro e Outras Artes, o Espaço Cultural, assim como é responsável pelo Festival Sala de Giz de Teatro, que está em sua terceira edição. Neste ano, estão confirmadas as participações de companhias do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Campinas e Curitiba. Segundo o gestor, trazer pessoas de todo o Brasil para a cidade é uma forma de ampliar as perspectivas de profissionalização.
Nome ícone do teatro em Juiz de Fora, Marcos Marinho é um entusiasta da produção local. Ele dirigiu o Teatro do Sesi entre 1989 e 2001. “Trabalhei, principalmente, dando aula para novos atores e fazendo teatro em geral, mas, prioritariamente, teatro de rua, teatro em espaços abertos, como praças, pátios de escola, de fábrica, etc”. Nos anos seguintes, até 2013, esteve à frente do seu próprio espaço, o Teatro Mezcla. “Tínhamos também o Teatro Lido, um círculo de leituras de textos teatrais que ganhou dois prêmios do extinto Ministério da Cultura e um prêmio da Secretaria de Cultura de Minas Gerais”, lembra, na expectativa que a iniciativa privada aposte mais no teatro da cidade.
Ex-integrante do Grupo Divulgação, o coordenador da Praça CEU (Funalfa/ACAV), em Benfica, Guy Schmidt, considera que o teatro é veículo para a expressão humana, capaz de desenvolver nas pessoas a capacidade crítica. Além de aulas oferecidas gratuitamente para a comunidade da Zona Norte, a CEU possui teatro com 125 lugares e excelente infraestrutura, que é amplamente utilizado tanto para apresentações artísticas, quanto eventos e até gravação de clipes. A grande missão do espaço é a formação de público, explica Guy, despertando nas pessoas o hábito de frequentar esses ambientes.
Assim como a Praça CEU, gerida pela Prefeitura, o Projeto Gente em Primeiro Lugar (Funalfa/AMAC) também oferece aulas de teatro gratuitas. Muito mais do que isso, porém, o objetivo do projeto é transformar vidas. “Os alunos têm a possibilidade de exercer o ofício artístico de forma profissional. Somos captadores de talentos e sonhos de pessoas que queiram estudar teatro”, diz o coordenador Fernando Valério.
Ícone da produção teatral e marco da expressão e da efervescência artística local, o Cine-Theatro Central, hoje gerido pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), tem se preocupado cada vez mais em trabalhar a arte em sua máxima potência. “Ele é um espaço de confraternização, de espetáculos dos mais variados, dos grandes aos pequenos, sejam nacionais ou pratas da casa. Tem lugar para todo mundo. É um espaço democrático”, explica o diretor do Centro de Conservação da Memória da UFJF, Marcos Olender.
Entre filmes, espetáculos e shows de nomes de grande expressão, como Procópio Ferreira, Tom Jobim e Gonzaguinha, o Central também foi palco para transmissões ao vivo da famosa Rádio Nacional. “Ele continua testemunhando a importância que a cidade dá para a produção cultural. Não é à toa que a cultura em Juiz de Fora é tão rica, tanto no teatro quanto na música”, acrescenta o diretor.
Outra importante conquista é o Teatro Paschoal Carlos Magno, oficialmente entregue à cidade em dia 2 de março de 2018, 37 anos depois do início de sua construção. À espera longa, segue-se a recompensa crescente com sua estrutura moderna e de multiuso com total acessibilidade. Com capacidade para 407 pessoas, o espaço abriga as mais variadas manifestações artísticas, do teatro à dança, das artes plásticas à música, do circo ao audiovisual. A democratização do uso é uma das prerrogativas de ocupação e fomenta o desenvolvimento da Economia Criativa.