Jael Pifano: Do trabalho pela sobrevivência ao sucesso

Por Mariana Floriano, sob supervisão da editora Luciane Faquini

 

 

 

 

Por trás do nome Jael Pifano há muito mais do que uma mulher, cabeleireira, empresária e mãe. Jael Pifano empresta seu nome a uma equipe formada por 42 mulheres e um homem em um dos mais movimentados salões de Juiz de Fora. Por mês, as mãos da equipe de Jael cuidam dos cabelos e da beleza de cerca de duas mil mulheres. Filha de imigrantes italianos, a juiz-forana começou a carreira com apenas 14 anos, trabalhando na limpeza de um salão da cidade. Sempre com vontade de aprender, aos 23 montou seu primeiro estabelecimento com apenas duas cadeiras e um espelho. Hoje, possui um verdadeiro complexo de beleza que é referência em Juiz de Fora e região. Ao olhar para trás, Jael se sente realizada do caminho que trilhou, principalmente por construir uma empresa do jeito que sempre quis. Os planos para o futuro envolvem seguir repetindo a fórmula que a levou até ali: criar oportunidades para mulheres que desejam se encontrar nesta profissão que tem o objetivo de levar mais beleza para o mundo.

Ao virar a esquina da Rua Oscar Vidal, no Centro de Juiz de Fora, e descer até o número 150, a paisagem fria do asfalto dá lugar a tons dourados e luzes brilhantes do salão de Jael Pifano. “Pode subir, a Jael está esperando por você no andar de cima”, diz uma das moças no hall de entrada. Uma escada caracol nos leva até o segundo piso. Lá, mais secretárias: “a Jael está na sala de tintura, pode subir as escadas”. Mais um lance e o olhar admirado entre salas para lavagem de cabelo, para corte, tintura, maquiagem, conversas animadas e mulheres com brilho nos olhos e papel na cabeça.

Já no terceiro andar está Jael. A mulher que dá nome à equipe de mais de 40 funcionárias conversa, se movimenta com rapidez, e fica por dentro de tudo o que acontece nas inúmeras salas. “Nunca cheguei a contar quantas são, dá até um desespero”, afirma rindo. Para conversar, vamos até o espaço reservado para arrumação de noivas, onde, segundo ela, “é mais calmo”. De fato, fica difícil definir se o ritmo agitado do salão toma conta de Jael ou se ela contagia o ambiente, já que na opinião de suas filhas, “ela é a alma do lugar”.

Quem hoje entra na empresa construída por Jael Pifano não imagina que há 40 anos tudo o que possuía eram duas cadeiras e um espelho. “Tenho 59 anos de idade e 45 de profissão”, diz ao contar a história de quando tudo começou. A primeira função de Jael dentro de um salão de beleza foi na limpeza, varria os cabelos que caíam no chão, mas sempre com olhos e ouvidos atentos a tudo o que acontecia em cima das cadeiras.

“Sou filha de imigrantes italianos, meus pais eram muito pobres. Minha mãe, que não sabia ler nem escrever, lavava mais de 30 trouxas de roupa por dia e, nos fins de semana, fazia comida para vender no bairro.” Foi observando a condição humilde da família que Jael, com apenas 14 anos, se dispôs a ajudar. Nenhum parente era cabeleireiro, e o sonho de ter um salão próprio nunca tinha passado pela sua cabeça. “O meu sonho mesmo, desde pequena, era ser química.”

Sem ter como bancar os estudos, Jael agarrou a primeira oportunidade que surgiu. “Uma vizinha trabalhava no Ediza, que já foi um dos maiores salões de Juiz de Fora, e ela me disse que estavam precisando de alguém para limpeza. Na mesma hora eu aceitei.” Dez anos mais tarde, ela viria a montar seu primeiro salão.

“Eu não tenho vergonha de falar, no meu primeiro salão, só tinha um lavatório, duas cadeiras e um espelho. Já almocei muitas vezes no banheiro, porque não tinha outro lugar para almoçar.” Os primeiros anos da profissão foram de muita luta, trabalhava de segunda a sexta e, nos fins de semana, cortava o cabelo de todos os moradores do Bairro Borboleta, onde nasceu. “Já trabalhei muito de graça, mas era importante para que eu aprendesse.”

Jael sabe fazer de tudo. “Sempre fui assim. A primeira vez que fiz maquiagem foi quando a maquiadora do salão passou mal, não pode ir e tinham várias clientes marcadas para um casamento. Minha chefe à época, que sempre me percebeu observando o trabalho da maquiadora, perguntou se eu sabia fazer maquiagem. Eu não sabia, mas disse “sei”. A partir daí, eu virei maquiadora.”

Coragem, vontade de aprender e muita determinação foram os componentes que, segundo Jael, deram vida ao seu salão. Do pequeno cômodo na galeria Constança Valadares, ela teve que se mudar para outro prédio na Rua Halfeld. “A sala não me comportava mais, depois de um tempo, a mulherada ficava de papel nos cabelos pelos corredores da galeria.”

Na Rua Halfeld, ela alugou duas salas no Edifício do Banco Mineiro da Produção, lá ficou por seis anos, mas logo surgiu a necessidade de expandir. “A primeira vez que vim visitar esse apartamento aqui na Oscar Vidal, eu não queria pegar de jeito nenhum. Falei com a proprietária que ela estava louca, aqui era grande demais para mim. Hoje já estou com quatro.”

Se quisesse, afirma Jael, poderia ser ainda maior, mas afirma estar satisfeita com a empresa que construiu. “Me sinto realizada porque fiz uma empresa da forma como eu queria, uma empresa humana.” O salão, antes da pandemia, recebia cerca de duas mil clientes por mês e, nos últimos tempos, tem retornado ao ritmo intenso de trabalho. “Nós tivemos que reduzir a equipe durante a pandemia por conta de espaço. Para obedecer as normas de distanciamento, não pude ficar com a capacidade máxima de funcionários que eu tenho.”

Atualmente, o salão de Jael conta com 42 funcionárias, entre cabeleireiras, manicures, esteticistas e outros profissionais. E há ainda um homem na equipe, o primeiro depois de muitos anos. Gerar empregos e dar oportunidade de crescimento é uma das coisas que mais motiva a empresária. “Se eu pudesse, contratava muito mais. Assim como eu comecei muito nova, vejo meninas seguindo os mesmos passos, com muita garra, se aperfeiçoando e traçando um rumo na vida.” Para ela, o diferencial do salão passa também pela qualidade das funcionárias. “Para trabalhar comigo precisa ser uma pessoa boa, não digo nem profissional bom, porque profissional a gente molda, mas caráter, não.”

 

"Se eu pudesse, contratava muito mais. Assim como eu comecei muito nova, vejo meninas seguindo os mesmos passos, com muita garra, se aperfeiçoando e traçando um rumo na vida"

Jael Pifano

Aspiração de ensinar jovens meninas e adolescentes

O sonho para o futuro é poder retribuir um pouco de sua sorte às próximas gerações. Jael planeja fundar uma escola técnica para jovens meninas e adolescentes, com o objetivo de ensinar um ofício e consequentemente as tirar das ruas. “Gostaria de dar a oportunidade para se descobrirem em um tipo de profissão. Se você encontra uma direção com 14, 15 anos, a chance de ter um futuro melhor aumenta demais. Eu ficaria muito realizada em saber que fui parte disso.”

Mas no momento, os planos ainda são apenas planos, as prioridades de Jael são outras, como cuidar da mãe de 93 anos. “Minha mãe é minha maior inspiração. Fui criada por uma mulher à frente do seu tempo, não tinha como eu ser diferente. Mesmo sem ter dinheiro ou educação, ela nunca abaixou a cabeça, pelo contrário. Sempre batalhou demais para conseguir o que é dela.”

Quando questionada sobre o que gosta de fazer quando não está trabalhando, Jael logo responde “viajar”. Mas até nisso sua profissão ganha espaço. “Adoro viajar, conhecer novas culturas, já fiz curso em oito países na área de coloração. Sempre que dá, tento unir essas duas paixões, viajar e aprender.” Outra paixão recém descoberta é seu sítio, “nunca gostei d aí e roça, mas agora tenho um sítio onde gosto de ir para cuidar das minhas plantas. Eu também faço crochê, tenho meus grupos de estudo, de religião. Minha vida é bem movimentada, mas eu gosto assim”, afirma, rindo.